sábado, 1 de junho de 2013

SOBRE O SUTRA DO CORAÇÃO (PRAJNA PARAMITA HRIDAYA SUTRA)

texto compilado por Karma Tenpa Dharguye


O mundo de destinos miseráveis é comparável a um grande oceano, e os sentimentos e pensamentos dos seres vivos à ausência de margem. Eles são ignorantes e não sabem que as ondas crescentes de inconsciência são as causas da ilusão e das ações kármicas que resultam no ciclo infinito de nascimentos-e-mortes. Seus sofrimentos são inexauríveis e eles são incapazes de atravessar o oceano amargo da mortalidade. Portanto, isto é chamado de a outra margem.Buda usou o brilho de sua grande sabedoria para iluminar e quebrar as paixões, e para por um fim a todos os sofrimentos para sempre. Isto conduz à eliminação completa dos dois tipos de morte [natural e violenta] e a saltar do oceano de misérias para a realização do nirvana. Portanto, é chamada de a outra margem.

O coração mencionado é o coração da grande sabedoria que alcança a outra margem. Não é o coração humano que os homens mundanos usam para pensar erroneamente. O homem ignorante não sabe que fundamentalmente possui o coração da luz brilhante da sabedoria. Ele considera como real o inchaço de músculos ligados à carne e ao sangue, e reconhece apenas as sombras resultantes do pensamento errôneo e do apego, estimulado pelas circunstâncias. Assim os pensamentos se sucedem uns aos outros em sua cadeia incessante, sem um único deles voltar a luz para si mesmo, para o auto-reconhecimento. Apenas o Buda estava consciente da verdadeira sabedoria fundamental que pode iluminar e quebrar o corpo e o coração dos cinco agregados, que são não-existentes e cuja substância é inteiramente vazia. Portanto, ele saltou da aparência e alcançou a outra margem instantaneamente, cruzando assim o oceano amargo. Como teve pena dos homens deludidos, ele usou esta porta para a iluminação - que experimentou pessoalmente - para abri-la e para guiá-los, de modo que cada homem possa estar consciente de que a sua sabedoria é fundamentalmente auto-possuída, de que seus pensamentos errôneos são basicamente falsos e de que seu corpo e coração são inteiramente não-existentes. Então ele poderá se erguer do oceano dos sofrimentos e atingir o êxtase do nirvana. Foi por isto que ele expôs este sutra.

Avalokiteshvara ((em sânscrito Avalokiteśvara, "Aquele que enxerga os clamores do mundo"; em tibetano Chenrezig) , o bodhisattva da verdadeira liberdade, compreende através da profunda prática da grande sabedoria que o corpo e os cinco agregados são apenas o vazio, e através desta compreensão ele traz ajuda a todos os que sofrem.




Ao ouvir do Buda sobre esta profunda sabedoria, este bodhisattva meditou sobre ela e a praticou usando sua sabedoria para fazer uma introspecção nos cinco agregados, que são vazios tanto interna quanto externamente, resultando na realização de que o corpo, a mente e o universo não existem realmente, em um salto súbito tanto sobre o mundano quanto sobre o supramundano, na destruição completa de todos os sofrimentos e na aquisição de uma independência absoluta. Já que o bodhisattva pode se liberar por meio disto, cada homem pode confiar e praticar nela.Por esta razão, o Honrado-pelo-mundo [Buddha Shakyamuni] falou para Shariputra apontar a maravilhosa atuação de Avalokiteshvara, a qual ele queria que todos os outros conhecessem. Se fizermos a mesma contemplação, realizaremos em um instante que nossos corações basicamente possuem a luz da sabedoria, tão vasta, extensa e penetrante que brilha através dos cinco agregados que são fundamentalmente vazios.Após esta realização, onde os sofrimentos não poderiam ser aniquilados? Onde os grilhões do karma seriam algemados? Onde estariam os argumentos obstinados sobre o ego e a personalidade, sobre o certo e errado? Onde estaria a discriminação entre falha e sucesso, entre ganho e perda? E onde estariam os obstáculos das coisas como riqueza e honra, pobreza e desonra?

Shariputra!

Este era o nome de um discípulo do Buda. Shari é o nome de um pássaro com olhos muito brilhantes e penetrantes. A mãe dele tinha os mesmos olhos brilhantes e penetrantes, e foi chamada com o nome do pássaro. Então o próprio nome dele era o filho putra de uma mulher que tinha olhos do shari. Entre os discípulos do Buda, ele era o mais sábio. Portanto Shariputra foi chamado propositalmente para realçar o fato de que este ensinamento poderia ser dado apenas a um ouvinte sábio.

A forma não difere do vazio, nem o vazio da forma. A forma é idêntica ao vazio e o vazio é idêntico à forma. Assim também são os cinco agregados com relação ao vazio.

Isto foi dito a Shariputra para explicar o significado da vacuidade dos cinco agregados. A forma foi apontada primeiro. Esta forma é a aparência do corpo que os homens consideram como sua posse. É produzida pela cristalização de seu firme e sofrível pensamento errôneo. É causada por manter o conceito de um ego, conceito este que é o mais difícil de quebrar.Agora, no começo da meditação, a atenção deve ser dada a este corpo físico que é uma combinação fictícia de quatro elementos e que é fundamentalmente não-existente. Já que a sua substância é inteiramente vazia tanto por dentro quanto por fora, não estamos mais confinados dentro deste corpo e, portanto não temos impedimentos quanto ao nascimento-e-morte, assim como ao ir-e-vir. Este é o método para quebrar a forma. Se a forma é quebrada, os outros quatro agregados podem, da mesma maneira, estarem sujeitos à introspecção profunda.

O ensinamento sobre a forma que não difere do vazio tem o objetivo de quebrar a visão do homem mundano de que a personalidade é permanente [eternalismo]. Como os homens mundanos acham que o corpo físico é real e permanente, eles fazem planos para um século sem realizar que o corpo é irreal e não-existe, que está sujeito às quatro mudanças [nascimento, velhice, doença e morte] de momento a momento, sem interrupção, até a velhice-e-morte, com o resultado último de que ele é impermanente e de que finalmente retornará ao vazio. Este é ainda o vazio relativo, em relação ao corpo e à morte, e não alcança ainda o limite da lei fundamental [o vazio absoluto]. Como a forma ilusória, feita de quatro elementos, basicamente não difere do vazio absoluto, o Buda disse, "a forma não difere do vazio", o que significa que o corpo físico fundamentalmente não difere do vazio absoluto.

Quando o Buda disse, "o vazio não difere da forma", sua intenção era a de quebrar o conceito de aniquilação [niilismo]. Significa que o vazio absoluto não é fundamentalmente diferente da forma ilusória, mas não é um vazio relativo e aniquilador em oposição à forma. Isto significa que a grande sabedoria é o vazio absoluto da realidade. Por quê? Porque o vazio absoluto é comparável a um grande espelho, e todos os tipos de formas às aparências refletidas nesse espelho. Se realizarmos que estes reflexos não estão separados do espelho, prontamente entenderemos que "o vazio não difere da forma".

Como o Buda estava preocupado que os homens mundanos pudessem confundir estas duas palavras - forma e vazio - como sendo duas coisas diferentes, e de que na visão de sua igualdade eles pudessem não ter uma mente imparcial em sua contemplação, ele identificou a forma e a vacuidade uma com a outra na frase "a forma é idêntica ao vazio e o vazio é idêntico à forma".

Com a contemplação correta feita de acordo e com a realização resultante de que a forma não difere do vazio, não haverá avidez por som, forma, riqueza e ganho, e nenhum apego às paixões dos cincos desejos surgidos dos objetos dos cincos sentidos - às coisas vistas, ouvidas, cheiradas, degustadas ou tocadas. Isto é o salto do estágio do bodhisattva para a ascensão instantânea ao estágio de Buda. Esta é a outra margem.

Shariputra, toda a existência é vazia, não há nem início nem fim, nem pureza nem impureza, nem crescimento ou declínio. Portanto, no vazio, não há agregados; não há olho, ouvido, nariz, língua, corpo e mente; não há forma, som, odor, sabor, toque e objeto do pensamento; não há conhecimento, ignorância, ilusão e fim da ilusão; não há sofrimento, declínio e morte, fim do sofrimento e morte; não há conhecimento, ganho e não-ganho.

Esta é uma explicação exaustiva da grande sabedoria para descartar todos os erros. O vazio real pode limpar todos os erros porque é puro e claro e não contém uma única coisa, pois dentro dele não há rastros dos cinco agregados e assim por diante.

Como o reino do Buda é como o vazio e nada têm a se confiar, se a busca do estado búdico confiar numa mente que procura o ganho, o resultado será falso porque, dentro da substância do vazio absoluto, fundamentalmente não há coisas como sabedoria e ganho, pois o não-ganho realmente é o ganho real e último.

Como não há ganho, os bodhisattvas que confiam nesta sabedoria que vai além, não têm máculas em suas mentes, e uma vez que não têm máculas, eles não têm medo, são livres das idéias contrárias e delusivas, e atingem o nirvana final.

Uma vez que todas as coisas estão fundamentalmente na condição do nirvana, se a meditação for feita enquanto confiarmos no sentimento discriminativo e no pensamento, a mente e os objetos se amarrarão um ao outro e nunca poderão ser desemaranhadas dos ávidos apegos resultantes, que são todas as máculas. Se a meditação for feita por meio da grande sabedoria, e a mente e os objetos como sendo não-existentes, todos os seus contatos resultarão apenas em liberação. Como a mente não tem mácula, não pode haver medo do nascimento-e-morte. Como não há medo do nascimento-e-morte, tanto o medo do nascimento-e-morte e a busca do nirvana são idéias contrárias e delusivas.

Nirvana significa calma perfeita; em outras palavras, a eliminação perfeita das cinco condições fundamentais da paixão e delusão, e de alegria eterna na calma e extinção da miséria. Isto significa que apenas descartando todos os sentimentos de "santos" e "pecadores" é que poderemos experimentar uma entrada no nirvana. O desenvolvimento do bodhisattva feito por qualquer outro método não seria correto.

Todos os buddhas do passado, do presente e do futuro obtêm a visão completa e a iluminação perfeita confiando na grande sabedoria. Então sabemos que a grande sabedoria é o grande mantra sobrenatural, o grande mantra brilhante, insuperável e inigualável, que pode limpar verdadeiramente e sem falha todos os sofrimentos.

Não apenas os bodhisattvas praticaram, mas também todos os Budas dos três tempos se exercitaram para obter o fruto da iluminação completamente correta e perfeita. Tudo isto mostra que a grande sabedoria pode expulsar o demônio da aflição do mundo - por isso é o grande mantra sobrenatural. Como pode quebrar a escuridão da ignorância, a causa do nascimento-e-morte, é chamado de o grande mantra brilhante. Já que nada há nos mundos, mundano e supramundano que possa superá-lo, é chamado de o mantra insuperável. Como permite que os budas-mãe produzam méritos ilimitados, e já que nenhuma coisa mundana e supramundana pode ser igual a ele - apesar de ser igual a todos estes - é chamado de o mantra inigualável.

Por que a grande sabedoria é chamada de mantra? É apenas para mostrar a velocidade de sua eficiência sobrenatural, como uma ordem secreta no exército pode assegurar a vitória se for executada silenciosamente. O mantra pode quebrar o exército de demônios no mundo, comparável ao néctar que permite obter a imortalidade. Aqueles que o degustam podem dissipar o maior dos desastres, causado pelo nascimento-e-morte. Portanto, Buda disse, "Ele pode eliminar todos os sofrimentos". Quando disse que é verdadeiro e sem erro, ele queria dizer que as palavras do Buda não são enganadoras e que os homens mundanos não devem cultivar suspeita sobre elas, mas sim decidir praticá-las perfeitamente.

TADYATA OM GATE GATE PARAGATE PARASAMGATE BODHI SOHA

Antes do mantra ser ensinado, a grande sabedoria foi ensinada exotericamente, e agora foi exposta esotericamente. Aqui não há espaço para pensar e interpretar, mas a repetição silenciosa do mantra assegura rápida eficácia; isso se faz possível pelo poder inconcebível através do descarte de todo sentimento e da eliminação de toda interpretação. Os seres vivos deludidos usam-no para criar problemas por causa de seu pensamento errôneo. Apesar de o usarem diariamente, não estão conscientes dele. Assim, ignorantes de sua própria realidade fundamental, eles continuam passando inutilmente por todos os tipos de sofrimento. Não é uma pena? Se eles puderem despertar instantaneamente para si mesmos, poderão voltar imediatamente à luz, que há dentro de si mesmos. No momento de um pensamento, todas as barreiras dos sentimentos do mundo se quebrarão, como a luz de uma lamparina ilumina uma sala onde a escuridão existiu por mil anos. Portanto, não há necessidade de recorrer a qualquer outro método.Os homens mundanos estão andando por um caminho perigoso e vagando em um oceano amargo, mas ainda não querem olhar para a grande sabedoria. Realmente, suas intenções não podem ser adivinhadas! A grande sabedoria é como uma espada afiada, que corta todas as coisas que toca, tão afiadamente que elas nem sabem que foram cortadas. Quem, além dos sábios e santos, pode fazer uso dela? Certamente, não os ignorantes.


Han-shan, séc. VII

Fonte: http://www.nossacasa.net/shunya/default.asp?menu=1306

sábado, 4 de maio de 2013



Mantra de Vajrasattva




Om Benza Sato Samaya, Manu Palaya


Benza Sato Tei No Pa, Tisthira Dridho Me Bawa


Suto Khayo Mei Ba Wa, Anu Rakto Me Ba Wa, Su Po Khayo Mei Ba Wa


Sar Wa Siddhi Mei Pra Yatsa, Sarwa Karma Sutsa Me,


Tsi Tam Shri Yam Kuru Hung, Ha Ha Ha Ha Ho Bagawan


Sarwa Tathagata Hri Daya, Benza Ma Mei Muntsa


Benzi Bhawa Maha Samaya Sato Ah



Significado:


Você, Vajrasattva, geraram a mente santa (bodhicitta) de acordo com a sua promessa (samaya). Sua mente santa é enriquecida com as ações santas simultâneas de liberar os seres Transmigratory de samsara (a circular através do sofrimento). Aconteça o que acontecer na minha vida, felicidade ou sofrimento, bem ou mal, com uma mente santa satisfeito, nunca desistir, mas por favor me orientar. Por favor estabilizar toda a felicidade, inclusive a felicidade dos reinos superiores, realizar todas as ações e realizações sublimes e comuns, e por favor, ter a glória das cinco sabedorias permanecereis no meu coração.


A prática de repetir o mantra de Vajrasattva inclui o que é conhecido como "Quatro Poderes". Ao recitar o mantra e visualizando a divindade acima da coroa de sua cabeça, um alternadamente contempla estes como o caminho para purificar obstáculos e obscurecimentos. Estes quatro são:

1) O poder do objeto, que é a confiança em Vajrasattva como refúgio; 

2) O poder da libertação, ou seja, o desejo de purificar-se da negatividade, envolvendo a reflexão sobre as falhas e os erros que desejamos pureza; 

3) a solução de alimentação, referindo-se o foco de ponto único na prática, o que implica a repetição do mantra e visualizando a descida da luz branca da deidade em ti, e 

4) o poder de determinação indestrutível que é a resolução firme , com sede em sabedoria, para nunca repetir tais pensamentos, palavras ou ações novamente.

terça-feira, 23 de abril de 2013

Tara Branca




Tara Branca é uma emanação de Tara, que está relacionada com a longevidade. Podemos fazer essa pratica para gozar de boa saúde, força e longevidade.

Sua cor branca simboliza a pureza, mas também indica que ela é a Verdade completa e indiferenciada.

Ela usa os ornamentos de um Bodhisattva.

Ela tem sete olhos: os dois olhos, de costume, mais um olho no centro da testa. Há tambem olhos em suas mãos e pés. Isto significa que ela tem o poder de ver todo o sofrimento em todos os recantos do mundo humano, e em outros mundos, utilizando-se para isso, dos meios ordinários e extraordinários da psique ou da percepção. Ela carrega a flor de lótus.

A Tara Branca é também conhecida como Samaya Tara, o que significa o voto de Tara. Isto se refere a promessa de Tara de salvar todos os seres, que é um voto de Bodhisattva.

Tara Branca é representada como uma mulher madura, de profunda sabedoria e de seios fartos.

A pratica de Tara Branca é usada para ajudar com problemas de longo prazo, nomeadamente os problemas de saúde física ou mental. Tem-se a impressão que ela está mais distante, mais difícil de contacto em primeiro lugar; através da prática percebemos que ela nos envia energias de cura e poder místico e entendimentos.

Em algumas thankas de Padmasambhava (Tib: Guru Rinpoche) ele esta com suas duas consortes. A princesa indiana Mandarava, com quem alcançou o corpo de Arco-Íris, é identificada como a Tara Branca. A princesa tibetana Yéchés Tsogyal, sua consorte e uma fonte de muitos ensinamentos de linhagem importantes (por exemplo, o Kandro Nyin thig), é identificada com a Tara Verde.

Tara Branca esta entre as cinco famílias de Budicas (alguns consideram-na ser parte da família Lotus). A prática Tara Branca é especialmente importante nos ensinamentos da tradição Sakya.



OM TARE TUTARE TURE MAMA AYURPUNYE JNANA PUTIN KURU SVAHA.
 (Ohm Tahray Totahray tooray mahmah ahyoopoonyay jahnah pooteen kooroo swah hah).









quarta-feira, 17 de abril de 2013

Mantra de Avalokiteshvara




Namo Ratna Trayaya Namo Arya Gyana Sagara Berotsana Buha Radzaya Tathagataya Arhate Samyaksam Buddhaya Namo Sarwa Tathagatabhye Arhatebye Samyaksam Buddhebye Namo Arya Awalokite Shoraya Bodhisattoya Mahasattoya Mahakarunikaya Tayatha Om Dara Dara Diri Diri Duru Duru Itte Wate Tsale Tsale Partsale Partsale Kusume Kusume Ware Ihlimili Tsitti Dzola Apanaye Soha.



Avalokiteshvara (em sânscrito Avalokiteśvara, "Aquele que enxerga os clamores do mundo"; em tibetano Chenrezig), é o/a bodisatva (bodhisattva) que representa a suprema compaixão de todos os Budas. Um bodhisattva é aquela criatura que está adiantada ou pronta para alcançar o estado de Buda; contudo faz voto de só alcançá-lo plenamente quando nenhum ser estiver mais no samsara, ou na roda de encarnações neste mundo.

sábado, 13 de abril de 2013

Karaniya Metta Sutta


Amor e Bondade


" Quem é hábil no que é benéfico, desejando alcançar
aquele estado de paz, age assim:
capaz, correto, honrado,
com a linguagem nobre, gentil e sem arrogância,
Satisfeito e fácil de sustentar,
sem ser exigente por natureza, frugal no seu modo de vida,
os sentidos acalmados, sábio,
moderado, sem cobiçar ganhos.
Não faz nada, mesmo que trivial,
que seja condenado pelos sábios.[1
Pense: felizes, seguros,
que todos os seres tenham os corações plenos de bem-aventurança.
Todos os seres vivos que existem,
fracos ou fortes, [2sem exceção,
compridos, grandes,
médios, curtos,
sutis, grosseiros, 
Visíveis e invisíveis,
próximos e distantes,
nascidos e por nascer:
que todos os seres tenham os corações plenos de bem-aventurança. 
Que ninguém engane 
ou despreze outrem, em nenhum lugar,
ou devido à raiva ou má vontade
deseje que alguém sofra. [3]
Tal qual uma mãe, colocando em risco a própria vida,
ama e protege o seu filho, o seu único filho,
da mesma forma, abraçando todos os seres, 
cultive um coração sem limites. 
Com amor bondade para todo o universo,
cultive um coração sem limites:
Acima, abaixo e em toda a volta,
desobstruído, livre da raiva e da má vontade. 

Quer seja parado, andando,
sentado, ou deitado,
sempre que estiver desperto,
cultive essa atenção plena:
a isto se denomina uma morada divina
no aqui e agora.[4

Sem estar aprisionado pelas idéias,
virtuoso e com a visão consumada,
tendo subjugado o desejo pelo prazer sensual,
ele não mais renascerá.[5]"

Leia comentários e  explicações  no site :
http://www.acessoaoinsight.net/sutta/SnpI8.php

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Meditação de Metta

  





Meditação de Metta (Amor bondade) 

Por Bhante Henepola Gunaratana 



Algumas vezes a prática da meditação de insight (vipassana) pode ser interpretada como sendo um tipo de prática que faz com que o meditador se torne um ser sem coração ou indiferente, como um vegetal que não possui amor e compaixão pelos outros seres vivos.
Devemos, no entanto, lembrar que o Buda recomendou de maneira enfática que cultivemos quatro moradas divinas ou estados sublimes da mente: amor bondade (metta), compaixão (karuna), alegria altruísta (mudita) e equanimidade (upekha). O primeiro desses quatro é tão importante que o Buda disse que alguém que dependa inteiramente de outras pessoas para viver (isto é, um monge ou monja) poderá pagar a sua dívida para com os seus patrocinadores através da prática de metta, dirigida a todos os seres vivos, mesmo que seja por um período de tempo tão curto quanto uma fração de segundo por dia. O Karaniya Metta Sutta diz: "…sempre que estiver desperto, cultive essa atenção plena: a isto se denomina uma morada divina no aqui e agora." 

A atenção plena é um dos fatores mais importantes em todo o conjunto dos ensinamentos do Buda. Desde o dia que ele alcançou a iluminação, até o dia em que ele faleceu aos 80 anos, em quase todos os discursos do Dhamma ele enfatizou a atenção plena. Ao equiparar a prática de metta à atenção plena podemos entender a importância dessa prática dentro do conjunto dos ensinamentos do Buda. O Buda aperfeiçoou a prática de metta para alcançar a Iluminação, equilibrando-a com a sabedoria. Mesmo após haver alcançado a Iluminação, a primeira coisa que ele fazia todos os dias era penetrar a realização da Grande Compaixão, que é o fruto da prática de metta. Em seguida ele inspecionava o mundo para ver se havia seres que ele poderia auxiliar na compreensão do Dhamma. Esses quatro estados sublimes da mente são denominados Brahma Vihara, o comportamento ideal ou atitude ideal. Os três primeiros possuem força suficiente para permitir alcançar os primeiros três jhanas e o último para alcançar o quarto jhana. A sua importância na prática da meditação vipassana fica evidente pelo fato deles estarem incluídos no segundo elemento do Nobre Caminho Óctuplo. Na verdade, nenhuma concentração é possível sem esses estados sublimes da mente, porque na ausência deles a mente fica cheia de raiva, rigidez, preocupações, temores, tensão e inquietação. 

Antes de nos dedicarmos à prática desses estados nobres da mente, devemos superar a raiva, que é uma maneira impensada de desperdiçar a própria energia. A raiva, quando ativa, se compara à água fervendo ou, quando não é expressa, ao preconceito. Ela pode destruir a nossa prática de meditação e o treinamento das virtudes. A pessoa enraivecida se compara a um pedaço de lenha meio queimado deixado em uma pira funerária. Ambas as extremidades da lenha estão queimadas e transformadas em carvão e o meio está coberto com imundícies. Ninguém pegaria esse pedaço de lenha para queimar ou para qualquer outro propósito porque ficaria com as mão imundas. Da mesma forma a pessoa enraivecida será evitada de todas as formas, se possível, por todos. 

Precisamos começar a prática de metta com nós mesmos primeiro. Algumas vezes alguns de vocês podem se perguntar porque devemos amar a nós mesmos primeiro. Isso não seria amor próprio que conduz ao egoísmo? Se você investigar a sua mente cuidadosamente no entanto, irá se convencer de que não existe nenhuma outra pessoa em todo o universo que você ame mais do que você mesmo. O Buda disse, “Tendo atravessado todos os quadrantes com a mente, ele não encontra em nenhum lugar alguém mais querido do que ele mesmo. Do mesmo modo, toda pessoa considera a si mesma como a mais querida; por conseguinte quem ama a si mesmo não deveria ferir os outros.” (Mallika Sutta). Quem não ama a si mesmo será incapaz de amar aos outros. Da mesma forma, quem ama a si mesmo irá sentir o impacto de metta e poderá então compreender quão belo seria se todos os corações no mundo estivessem plenos com o mesmo sentimento de metta.

O tipo de amor bondade que queremos cultivar não é o amor comum tal como é entendido no uso diário. Quando você diz, por exemplo, "eu amo tal pessoa" ou "tal coisa", o que você realmente está querendo dizer é que você deseja a aparência, comportamento, idéias, tom da voz ou a atitude em geral daquela pessoa, em relação a você particularmente, ou em relação à vida de forma geral. Se aquela pessoa mudar as coisas pelas quais você a deseja, você poderá decidir que não a ama mais. Se as preferências, caprichos e fantasias das pessoas mudarem, elas não mais dirão "eu amo tal pessoa". Nessa dualidade de amor-ódio você ama uma pessoa e odeia outra. Você ama agora e odeia depois. Você ama quando quiser e odeia quando quiser. Você ama quando tudo está bem e sem problemas e odeia quando alguma coisa dá errado no relacionamento entre você e a outra pessoa. Se o seu amor muda dessa forma de tempos em tempos, de lugar em lugar e de situação para situação, então o que você chama de "amor" não é metta mas sim desejo, cobiça ou luxúria - de nenhuma forma isso é amor.

O tipo de amor bondade que queremos cultivar através da meditação não possui um oposto ou um motivo velado. Assim, a dicotomia amor-ódio não se aplica ao amor bondade cultivado através da sabedoria ou da atenção plena, pois ele nunca irá se transformar em ódio à medida que as circunstâncias mudarem. O verdadeiro amor bondade é uma faculdade natural que está oculta sob o amontoado de desejo, raiva e ignorância. Ele não pode ser dado. Nós precisamos encontrá-lo dentro de nós mesmos e cultivá-lo com a atenção plena. A atenção plena o descobre, cultiva e mantém. A consciência do "eu" (ahankara) se dissolve com a atenção plena e o seu lugar é tomado pelo amor bondade isento de egoísmo.

Por causa do nosso egoísmo odiamos algumas pessoas. Queremos viver de certo jeito, queremos fazer certas coisas ao nosso modo, perceber as coisas de uma forma particular; e não de outro jeito. Se outras pessoas não concordarem com as nossas opiniões, nossos jeitos e nossos estilos, não só as odiaremos, mas também nos tornaremos tão cegos e irracionais, devido à falta de atenção plena, que poderemos chegar ao ponto de negar-lhes o direito à vida.

Quando você pratica metta você não fica colérico por não receber algum tipo de retribuição de pessoas e seres para os quais você irradiou o seu metta, porque ao irradiar-lhes o seu amor bondade você não possuía nenhum motivo oculto. Nessa rede de amor bondade você não somente inclui todos os seres tal como eles são, mas você deseja que todos eles, sem qualquer discriminação, sejam felizes. Você irá se portar de maneira gentil e agradável para com todos e irá falar a respeito deles de forma gentil e agradável tanto na presença como na ausência deles. 

Ao meditar as nossas mentes e corpos se tornam naturalmente relaxados. Os obstáculos são dissolvidos. A sonolência e o torpor por exemplo são substituídos pela vigilância. A dúvida é substituída pela confiança, a raiva pela alegria, a inquietação e a preocupação pela felicidade. Na medida que o ressentimento é substituído pela alegria, o amor bondade escondido no nosso subconsciente se manifesta fazendo com que fiquemos ainda mais em paz e felizes. Nesse estado de meditação obtemos concentração e superamos a nossa cobiça. Podemos ver como a meditação destrói a raiva e cultiva metta, que por seu lado dá sustentação para a nossa prática de meditação. Juntos, os dois operam em uníssono, culminando com a concentração e o insight. Assim, para capturar na própria mente a energia do amor bondade a pessoa precisa se aperfeiçoar através da prática da meditação da atenção plena. 

A observação atenta dos nossos estados mentais pode fazer com que tenhamos consciência do dano, destruição e dor causados por certos tipos de pensamentos. Enquanto que outros são cheios de paz e alegria. Com isso, a nossa mente passa a rejeitar aquilo que é prejudicial e a cultivar o que é pacífico e prazenteiro. Não aprendemos isso nos livros, com mestres, amigos ou inimigos, mas através da nossa própria prática e experiência. Quando os pensamentos prejudiciais surgem aprendemos a não lhes dar atenção e quando pensamentos benéficos surgem nós permitimos que eles se expandam e permaneçam por mais tempo na mente. Assim aprendemos com a nossa própria experiência como pensar de forma mais saudável. Essa prática cria as condições na nossa mente para que o amor bondade cresça. Isso significa que pensamentos benéficos que surgem na nossa mente por si mesmos, podem ser gerados de acordo com a nossa própria vontade, mais tarde. Essa prática nos ajuda a compreender que o amor bondade pode se desenvolver e crescer no fundo da nossa mente. Fatores ambientais ou circunstanciais desempenham um papel importante nesse cultivo. Nenhum ser humano está totalmente desprovido de amor bondade, não importa o quão cruel ele ou ela aparentem ser. O amor bondade escondido no subconsciente de cada pessoa deve ser trazido à tona através do desenvolvimento da habilidade da atenção plena.

"Mitra" na literatura védica e "Mitta" na literatura em Pali significam o sol. A natureza do sol pode ser chamada de "Maitri" ou "Metta". Maitri ou Metta também significam amor bondade ou amizade. Talvez a razão porque o amor bondade seja assim chamado é porque gera sentimentos calorosos em relação a todos os seres. Da mesma forma como o calor vem do sol, aquele que possui amor bondade possui uma coração pleno de calor para com todos. Da mesma forma como o sol brilha sem discriminação sobre todos os objetos no mundo, "Metta" ou "Maitri" permeiam todos os seres sem qualquer discriminação. Da mesma forma como o sol dissipa a escuridão, o amor bondade destrói a escuridão da raiva. Da mesma forma como alguns objetos absorvem melhor o sol do que outros, alguns seres vivos absorvem melhor o amor bondade do que outros. Os seres que absorvem mais amor bondade do que outros são aqueles que aprendem a relaxar devido ao seu Kamma.

O Buda cultivou metta tão potente que o fez amar o seu pior inimigo, Devadatta, que tentou matá-lo várias vezes. Ele amava o assaltante e assassino Angulimala, que também tentou matá-lo. Ele amava Dhanapala, um elefante que tentou matá-lo. Ele amava a todos da mesma forma como amava o seu filho Rahula. Quando Devadatta morreu, ao ir ter com o Buda, os monges perguntaram ao Buda qual seria o seu futuro. O Buda disse que no futuro ele se converteria num Buda silencioso. Assim é o amor bondade, guiado pela atenção plena, que nos permite viver em paz e harmonia.

O amor bondade ou metta não pode ser cultivado pela mera repetição de palavras de amor bondade. Esse tipo de repetição é muito parecido com a repetição de uma receita para um paciente num hospital ou de um cardápio para uma pessoa faminta em um restaurante. Repetir uma lista de coisas nunca irá produzir o resultado tangível das palavras da lista. O amor bondade é algo que tem que ser cultivado com intenção por nós mesmos nas nossas mentes.

O amor bondade é desenvolvido através da meditação. Quando a mente está relaxada, o meditador é capaz de perdoar e esquecer todas as ofensas que foram cometidas contra ele. A pessoa pode praticar metta através da meditação da tranqüilidade (samatha). Mas isso não dura para sempre porque a tranqüilidade que é alcançada é apenas temporária. O amor bondade cultivado através de vipassana, por outro lado, é perpétuo, porque os efeitos da meditação vipassana se enraízam profundamente na mente da pessoa. A meditação vipassana abranda a mente, e o amor bondade, cultivado em conjunto com o abrandamento da mente, irá lançar raízes profundas na mente.

Quem pratica a meditação vipassana vê a impermanência nas formas, sensações, percepções, formações mentais e consciência. Eles podem comparar as mudanças nesses agregados com aqueles das outras pessoas. Dessa forma eles não vêm nenhuma pessoa ou coisa com ódio. Se eles perguntarem a si mesmos quem eles odeiam, eles não irão encontrar nenhum indivíduo para odiar. Da mesma forma, eles não encontrarão nenhum indivíduo pelo qual possam cultivar o amor bondade. Tudo que eles percebem é o fenômeno do fluxo contínuo dos eventos que ocorrem a cada momento, consigo mesmo e com os outros. Isso os capacita a perdoar e esquecer as ofensas que outros agregados tenham cometido contra eles, ou seus amigos, ou parentes. A meditação de metta é o processo verdadeiro que genuinamente desenvolve as nossas nobres qualidades, que podem promover a paz e a felicidade. Não podemos inculcar amor bondade nas mentes das outras pessoas. Nem as outras pessoas podem fazer o mesmo conosco. Você não poderá inculcar amor bondade em mim pela força se o meu Kamma impedir minha mente de aceitá-lo. Cada um de nós precisa preparar o terreno para que o amor bondade se desenvolva e cresça dentro da nossa mente.

Você também deve tê-lo dentro de si antes que possa ensiná-lo aos outros, da mesma forma como você não pode ensinar algo para alguém se você não conhecer o assunto primeiro. Suponha que você tente ensinar algo para outras pessoas sem conhecer o assunto. Você irá passar por tolo. Quanto mais você conhecer o seu assunto, melhor será para ensiná-lo aos outros. Da mesma forma, quanto mais treinada for a sua mente na disciplina do amor bondade, melhor será para ensiná-la ao mundo como cultivá-la. É óbvio que você não precisa esperar até que o seu aprendizado e treinamento estejam completos para iniciar o seu ensino. Enquanto pratica o amor bondade você estará ganhando experiência prática. Você não poderá praticar no vazio. Tem que haver outros seres vivos para que você possa praticar de forma a ganhar experiência. Portanto, ao mesmo tempo que você treina praticando o amor bondade, estará também treinando os outros nessa prática. Enquanto ensina você aprende. Enquanto aprende você ensina.

Até mesmo os Bodisatvas, enquanto se empenham com vigor na própria salvação, ajudam o mundo. A sua prática os auxilia a alcançar a iluminação primeiro, para assim serem capazes de ajudar o mundo a alcançar o mesmo objetivo. Se eles ensinarem os outros a praticar o amor bondade sem que eles mesmos o pratiquem, eles não alcançarão a iluminação, nem serão capazes de ajudar os outros a praticar o amor bondade.

Cada um de nós precisa cultivá-lo por si mesmo e para si mesmo. Você não pode cultivá-lo pelos outros. Nem os outros podem cultivá-lo por você. Se eu prometer salvá-lo praticando o amor bondade sem que você o pratique, então somente eu livrarei a minha mente da má vontade, pois não serei capaz de livrar a sua mente desse estado negativo. Da mesma forma, se você cultivar o amor bondade para mim e eu cultivá-lo para você, então, ambos estaremos praticando. Eu não deveria esperar que você pratique o amor bondade por mim. Nem você deveria esperar que eu o pratique por você. Se você disser, "Não pratique o amor bondade que eu o farei por você", isso não funciona. Não diga "Como posso cultivar amor bondade por tal pessoa que me odeia?" Se você odeia quem lhe odeia, ambos estarão fazendo o mal. Ao fazer essa pergunta o que você está dizendo, em outras palavras é, "Como posso ser bom se os outros são maus?" Ou "Como posso evitar cometer crimes se os outros cometem crimes?" Você não pratica amor bondade porque os outros o cultivam. Você quer cultivá-lo justamente porque os outros não o cultivam.

Em última análise a prática do amor bondade depende do desenvolvimento espiritual e do Kamma da pessoa. As mentes de algumas pessoas possuem um Kamma tão desafortunado que para elas é quase impossível sonhar quanto à eficácia do amor bondade quanto mais praticá-lo, pois o seu Kamma impede que elas vejam o benefício do amor bondade. Se você for ensinar uma classe de alunos irá notar que o desempenho dos alunos não é igual. Mesmo gêmeos idênticos possuem desempenhos distintos. A individualidade é a forma de expressar o desenvolvimento emocional, intelectual, físico e espiritual condicionado pelo Kamma da pessoa. Nem mesmo o Buda pode interferir no Kamma de uma pessoa. Nós não somos criados iguais, nascemos diferentes uns dos outros de acordo com o nosso próprio Kamma que divide os indivíduos com qualidades superiores e inferiores. Se você praticar um ato com bom Kamma e desfrutar do seu resultado, eu não serei capaz de roubá-lo ou tomá-lo de você seja pela força ou por meios amigáveis. Se eu praticar o amor bondade para todos os seres poderei limpar a minha mente da raiva. Assim a prática do amor bondade se manifesta no meu comportamento. Começar a prática do amor bondade é começar a prática de bom Kamma, pois nenhum bom Kamma pode ser praticado sem amor bondade. Ao apresentar os Quatro Fundamentos da Atenção Plena o Buda disse aos meditadores que superassem a cobiça e a raiva e o motivo é que durante a prática da atenção plena o meditador irá encontrar muitos problemas com ambos, a cobiça e a raiva. Com freqüência as pessoas perguntam "Podemos eliminar a dor, o sofrimento e a raiva das outras pessoas através do cultivo interior de amor bondade?" Até mesmo o Buda é incapaz de erradicar a dor e o sofrimento de outras pessoas desejando-lhes a paz e a felicidade. O Buda disse: "Você precisa trabalhar a sua própria salvação. Os Budas apenas ensinam". Como cada indivíduo possui a sua parcela de Kamma, cada um tem que se dedicar para obter a sua própria salvação. Se pudéssemos eliminar o sofrimento dos outros desejando que eles se libertem da dor e do sofrimento, então fazer com que todo o mundo tivesse paz e felicidade seria muito fácil. Se isso fosse possível então da mesma forma, também deveria ser possível que uma pessoa vingativa destruísse todos os seus inimigos desejando-lhes: "Que eles sejam feios, que eles sintam dores, que eles não sejam prósperos, que eles não sejam ricos, que eles não sejam famosos, que eles não tenham amigos e que eles após a morte renasçam em estados miseráveis de existência". Na realidade, aqueles que fazem esses tipos de desejos inábeis é que poderão ficar feios, com dores, sem prosperidade, sem riqueza, sem fama, sem amigos e após a morte poderão renascer em um estado miserável de existência, porque eles cometem um Kamma ruim com a mente, por terem um desejo consciente cheio de raiva. Pensamentos ruins têm o poder de fazer com que os outros se sintam mal e bons pensamentos têm o poder de fazer com que se sintam bem. 

Você pode se perguntar, "Se no sentido mais fundamental não existem seres, ou em nenhum sentido algum tipo de eu, ou se existem seres em um sentido condicional e a minha prática de amor bondade não elimina a sua dor e sofrimento, devido ao seu próprio Kamma, porque devo cultivar o amor bondade?" Você deve se lembrar que quando a sua mente está cheia de pensamentos ruins ou pensamentos cheios de raiva por exemplo, você fala de uma forma rude com a linguagem grosseira, praguejando, difamando e caluniando. Você fala de forma maldosa. Quando a sua mente está cheia de ódio, tudo que você vê gera dor; tudo que você ouve gera dor; tudo que você cheira gera dor; tudo que você come faz com que fique enfermo, tudo que você toca é desagradável para o corpo; e tudo que você pensa é doloroso. Você se torna vingativo. Você sempre fala mal dos outros, nunca vê nada de bom nos outros. Você se torna muito crítico. Você sempre encontra defeitos nos outros. Você nunca aprecia as coisas boas que eles fazem. Você estará enciumado todo o tempo. Você se torna muito arrogante, ingrato, malvado, com a mente muito mal intencionada. Você sempre pensa em causar dano aos outros. Você se delicia em ver os outros sofrerem, com problemas, com dificuldades. Você fica muito feliz em ver os outros fracassarem na vida. Assim o seu comportamento ultraja as pessoas. Facilmente você faz com que as outras pessoas se sintam mal. O seu comportamento será muito desagradável para as outras pessoas. Todos que estiverem ao seu redor sentirão nojo em ter que trabalhar com você. Elas ficarão com dor de estômago e dor de cabeça. Elas ficarão muito nervosas por estarem próximas de você. É assim que os seus pensamentos inábeis afetam as outras pessoas.

Por outro lado se a sua mente estiver plena com amor bondade, você irá falar de forma gentil, bondosa e amigável. Tudo que você ver será motivo para alegria; tudo que você ouvir será agradável. A sua comida terá um sabor melhor. Tudo que você tocar fará com que fique satisfeito. Tudo que você cheirar será agradável. Tudo que você pensar será muito agradável e tranqüilo. Você não medirá esforços para ajudar as outras pessoas. Você se tornará bastante compreensivo e circunspecto. Você terá muita paciência. Você se tornará muito amoldável. Você sempre dirá a verdade. Você sempre irá procurar agradar aos outros. Você estará preparado para esquecer o mal que lhe fizeram e perdoar as pessoas. Você sempre estará relaxado. Você não terá um riso falso e desnecessário, mas um sorriso amigável. Assim as pessoas irão amar trabalhar com você. Elas se sentirão confortáveis em sua companhia. As suas mentes também se tornarão suaves e gentis em relação a você. Elas protegerão você. Elas não falarão mal de você pelas suas costas mas, sim, bem. O seu nível de produtividade aumentará. A sua reputação aumentará.

Além disso, você poderá perguntar "Qual é o proveito de praticar o amor bondade para com todos os seres dizendo: ‘Todos os seres vivos que existem, fracos ou fortes, sem exceção, compridos, grandes, médios, curtos, sutis, grosseiros, visíveis e invisíveis, próximos e distantes, nascidos e por nascer: que todos os seres tenham os corações plenos de bem-aventurança!' Porque se deveria desejar, ‘Que ninguém engane ou despreze outrem, em nenhum lugar, ou devido à raiva ou inimizade deseje que alguém sofra. Tal qual uma mãe, colocando em risco a própria vida, ama e protege o seu filho, o seu único filho, da mesma forma, abraçando todos os seres, cultive um coração sem limites.’ Porque alguém deveria ‘Com amor bondade para todo o universo, cultive um coração sem limites: acima, abaixo e em toda a volta, desobstruído, livre da raiva e da inimizade. Quer seja parado, andando, sentado, ou deitado, sempre que estiver desperto, cultive essa atenção plena?'" 

Algumas vezes, também, as pessoas se perguntam como podemos desejar para os nossos inimigos "Que os meus inimigos possam estar bem, felizes e tranquilos. Que nenhum mal lhes aconteça; que eles não enfrentem nenhuma dificuldade; que eles não enfrentem nenhum problema; que eles sejam sempre bem sucedidos. Que eles também tenham paciência, coragem, compreensão e determinação para enfrentar e superar as inevitáveis dificuldades, problemas e fracassos da vida?"

Precisamos lembrar que praticamos amor bondade para a purificação das nossas próprias mentes, da mesma forma que praticamos a meditação para alcançar a iluminação. Ao desenvolver amor bondade interiormente poderei me comportar de maneira mais amigável, sem preferências, preconceitos, discriminação ou ódio. O meu nobre comportamento permite que eu auxilie os demais seres condicionados, da forma mais prática, para reduzir a sua dor e o seu sofrimento. São as pessoas compassivas que se comportam de forma suave e gentil para fazer com que as pessoas ao seu redor se sintam confortáveis. Compaixão é a manifestação do amor bondade em ação, pois quem não possui amor bondade é incapaz de ajudar os outros. Comportamento nobre significa portar-se da forma mais cordial e amigável possível. O comportamento inclui os pensamentos, linguagem e ações corporais. Se houver contradições nessa forma tríplice de expressar o nosso comportamento, então existe algo de errado nele. O comportamento contraditório não pode ser um comportamento nobre. Se alguém fala de amor bondade mas se comporta de uma forma grosseira, ele/ela é hipócrita não é honesto/a.

Por outro lado, falando em termos pragmáticos, é muito melhor cultivar o nobre pensamento, "Que todos os seres sejam felizes" do que o pensamento "Eu o odeio". O pensamento nobre irá definitivamente encontrar a sua expressão no nosso nobre comportamento e o nosso pensamento maldoso irá encontrar a sua expressão no mau comportamento.

Precisamos lembrar que os nossos pensamentos são transformados em linguagem e ação de modo a alcançar o resultado esperado. A intenção ou pensamento traduzido em ação é capaz de produzir um hormônio positivo no nosso cérebro. Esse hormônio positivo age como um nutriente que alimenta e fortifica os nossos nervos. Quando os nossos nervos são estimulados com esse hormônio positivo eles se fortalecem. Esse hormônio positivo será também transportado através do nosso corpo pela circulação sanguínea, fazendo com que as nossas células sejam saudáveis. Os nervos e células saudáveis fazem com que o nosso corpo e mente sejam fortes e saudáveis.

Devemos sempre falar e fazer as coisas com atenção plena no amor bondade. Se, enquanto fala de amor bondade, você age ou fala de uma forma diametralmente oposta, você será repreendido pelos sábios. Na medida em que a atenção plena no amor bondade se desenvolve, os nossos pensamentos, palavras e ações se tornam gentis, agradáveis, relevantes, verdadeiros e benéficos para nós, bem como para os demais. Se os nossos pensamentos, palavras ou ações causam dano para nós, para os outros, ou ambos, então precisamos nos questionar se realmente estamos plenamente atentos ao amor bondade.

Em termos práticos, se todos os seus inimigos estivessem bem, felizes e tranqüilos, eles não seriam seus inimigos. Se eles estiverem livres de problemas, dores, sofrimento, aflições, neuroses, psicoses, paranóias, temores, tensões, ansiedades, etc., eles não serão mais os seus inimigos. A sua solução prática para os seus inimigos é auxiliá-los a superar os problemas deles, de forma que você possa viver em paz e feliz. Na verdade, se você pudesse, você deveria preencher as mentes de todos os seus inimigos com amor bondade e fazer com que todos eles realizem Nibbana, assim você poderia viver em paz e feliz. Quanto mais neuroses, psicoses, temores, tensões, ansiedades, etc eles tiverem, tanto mais problemas, dores e sofrimento eles poderão causar ao mundo. Se você conseguir converter uma pessoa má e cruel em uma pessoa pura e santa então você terá realizado um milagre que o Buda nos permitiu realizar. Cultivemos a sabedoria e o amor bondade nas nossas mentes para converter as mentes más em mentes santas.




quarta-feira, 10 de abril de 2013

Conselho de um Mestre



                      Mudar o padrão mental e os hábitos, não é uma tarefa fácil. Quantas pessoas vivem dizendo:Vou parar de fumar; vou começar uma dieta, vou parar de comer carne, de beber, vou começar a meditar... Tentam por algum tempo e acabam retornando aos velhos hábitos. Acabam adiando para um amanhã   que nunca chegará caso não haja uma grande motivação que promova a mudança. Isso requer uma enorme força de vontade até que estejamos totalmente "acostumados" com os novos hábitos.
Assim acontecem as primeiras dificuldades quando buscamos trilhar o caminho para a iluminação, motivo que acaba  afastando o praticante iniciante do caminho correto.
Tsong-Kha-pa, autor de " As etapas do caminho para a iluminação", aconselha que os praticantes busquem orientação de um mestre experiente e que se esforcem para perceber todos os ensinamentos de Buda. Aqueles aspectos que não podem ser postos imediatamente em prática não devem ser abandonados. Ao contrário, devemos pedir interiormente para que possamos ser capazes de coloca-los em prática no futuro. Sendo capaz de fazer isso, nossa perspectiva sobre os ensinamentos de Buda será muito profunda.




Sua Santidade o Dalai Lama, em seu livro O caminho para a Liberdade, A trilha para a Iluminação,  cita o seguinte exemplo:
" Para que o paciente se cure da doença, ele precisa tomar o remédio. Deixar simplesmente o remédio em um frasco não irá ajudar. Do mesmo modo que, para livrarmos as nossas mentes da doença crônica das ilusões, precisamos colocar os ensinamentos em prática e somente através da prática que seremos capazes de nos livrarmos da doença da ilusão"



Referências :
- Dalai Lama, O Caminho para a Liberdade, A trilha para a Iluminação,  Rio de Janeiro Record:Nova Era, 2001

domingo, 7 de abril de 2013

Primeiros passos no Caminho Óctuplo




O Nobre Caminho Óctuplo 

É o caminho ensinado por Buda que nos conduz a cessação do sofrimento ( Dukkha) e consiste : entendimento correto, pensamento correto, linguagem correta, ação correta, modo de vida correto, esforço correto, atenção plena correta, concentração correta. 


Divisões do caminho 


O Nobre Caminho Óctuplo está incluído nos três agregados. Linguagem correta, ação correta, e modo de vida correto - esses estados estão incluídos no agregado da virtude. 

Esforço correto, atenção plena correta, e concentração correta - esses estados estão incluídos no agregado da concentração. 

Entendimento correto e pensamento correto - esses estados estão incluídos no agregado da sabedoria." 



· Grupo das Virtudes 

Linguagem correta significa "abster-se da linguagem mentirosa, da linguagem maliciosa, da linguagem grosseira e da linguagem frívola. A isto se chama linguagem correta." 

Ação correta significa ”abster-se de destruir a vida, abster-se de tomar aquilo que não for dado, abster-se da conduta sexual imprópria. A isto se chama de ação correta." 

Modo de vida correto significa “ conseguir seu sustento de maneira correta, não explorando outra pessoa”. 

· Grupo da Concentração 

Esforço correto (1) gera desejo para que não surjam estados ruins e prejudiciais que ainda não surgiram e ele se aplica, estimula a sua energia, empenha a sua mente e se esforça. (2) Ele gera desejo em abandonar estados ruins e prejudiciais que já surgiram e ele se aplica, estimula a sua energia, empenha a sua mente e se esforça. (3) Ele gera desejo para que surjam estados benéficos que ainda não surgiram e ele se aplica, estimula a sua energia, empenha a sua mente e se esforça. (4) Ele gera desejo para a continuidade, o não desaparecimento, o fortalecimento, o incremento e a realização através do desenvolvimento de estados benéficos que já surgiram e ele se aplica, estimula a sua energia, empenha a sua mente e se esforça. A isto se denomina esforço correto." 










Ensinamentos do Buda




Um sumário dos ensinamentos do Buda

O que segue é um breve sumário dos ensinamentos chave do Budismo Theravada. Muito foi deixado de lado, porém esse resumo deve ser o suficiente para que você inicie a sua exploração.

Pouco após a sua Iluminação, o Buda ( “O Iluminado”) proferiu o seu primeiro discursodefinindo a estrutura básica sobre a qual se baseariam todos os seus ensinamentos seguintes. Essa estrutura básica são as Quatro Nobres Verdades, quatro princípios fundamentais da natureza (Dhamma) que emergiram da avaliação honesta e profunda que o Buda fez da condição humana e que servem para definir toda a abrangência da prática Budista. Essas verdades não são afirmações de fé. São na verdade categorias nas quais podemos enquadrar nossa experiência de tal forma a criar condições para a Iluminação:
Dukkha: sofrimento, insatisfação, descontentamento, estresse;
A causa de dukkha: a causa dessa insatisfação é o desejo (tanha) pela sensualidade, pelo ser/existir e por não ser/existir;
A cessação de dukkha: o abandono desse desejo;

Para cada uma dessas Nobres Verdades o Buda identificou uma tarefa específica que o praticante deve realizar: a primeira Nobre Verdade deve ser compreendida; a segunda deve ser abandonada; a terceira deve ser realizada; a quarta deve ser desenvolvida. A realização completa da terceira Nobre Verdade abre o caminho para a penetração deNibbana (Sânscrito: Nirvana), a liberdade transcendente que é o objetivo máximo dos ensinamentos do Buda.

A última das Nobre Verdades – O Nobre Caminho Óctuplo – contém a prescrição de como aliviar nossa insatisfação e alcançar a eventual libertação, de uma vez por todas, desse ciclo de vida e morte (samsara) doloroso e desgastante ao qual – pela própria ignorância (avijja) das Quatro Nobres Verdades – estamos presos por tempos incontáveis. O Nobre Caminho Óctuplo oferece um guia prático e completo para o desenvolvimento mental de qualidades e habilidades benéficas que devem ser cultivadas se o praticante desejar alcançar o objetivo final, a liberdade e felicidade supremas, Nibbana.

Na prática o Buda ensinou o Nobre Caminho Óctuplo aos seus discípulos de acordo com um sistema de treinamento gradual, iniciando com o desenvolvimento de sila ou virtude (linguagem correta, ação correta e modo de vida correto, que na prática estão resumidos nos cinco preceitos), seguido pelo desenvolvimento de samadhi ou concentração (esforço correto, atenção plena correta e concentração correta), culminando com o pleno desenvolvimento de pañña ou sabedoria ( entendimento correto e pensamento correto). A prática de generosidade (dana) serve como um apoio para cada passo ao longo do caminho já que atua como um auxiliar na corrosão da tendência habitual ao desejo e também porque pode trazer grandes ensinamentos sobre as causas e resultados das ações de cada pessoa(kamma).

O progresso ao longo do caminho não segue uma trajetória linear simples. Em vez disso, o desenvolvimento de cada aspecto do Nobre Caminho Óctuplo encoraja o refinamento e fortalecimento dos demais, levando o praticante adiante em uma espiral ascendente de maturidade espiritual que culmina na Iluminação.


Que todos os seres possam ser verdadeiramente felizes!



Texto retirado de:

http://www.acessoaoinsight.net/theravada.php#sumario_dos_ensinamentos_do_buda